quinta-feira, 31 de março de 2016

O PENSAMENTO ESTÉTICO DE ARISTÓTELES

A Estética Aristotélica

Após a leitura do capítulo 4 - Teoria Aristotélica da Beleza do livro "Iniciação à Estética", de Ariano Suassuna (Ed. José Olympio, 2009), pudemos estabelecer algumas distinções entre as teorias de Aristóteles e Platão no que concerce os conceitos de Belo e de Beleza.

Platão afirma ser a Beleza um conceito ideal e fora do nosso alcance. Como conseqüência, a beleza platônica (imutável e perene) é perfeita e absoluta. Ou um objeto é belo (quanto alcança a Beleza supra-sensível) ou não é.


Aristóteles, por outro lado, afirma que a Beleza é real e inerente ao objeto, podendo ser aferida de forma objetiva, ao analisar-se determinadas condições como ordem, proporção, medida, harmonia das partes em um todo, grandeza. Por esse raciocínio, pode-se comparar o quanto de Beleza cada objeto possui: uma escultura simétrica não é tão bela quanto outra que, além de possuir tal característica, também é grandiosa. Seguindo tal pensamento, Aristóteles chega a admitir certo grau de beleza também naquilo que não pode ser considerado Belo.


Na visão de mundo aristotélica, o mundo atual é regido por uma harmonia e, no entanto, ainda há vestígios do caos inicial no mundo, estando o homem em constante busca para fazer a harmonia prevalecer sobre a desordem. No entanto, há valor no caos, na feiúra o no imperfeito como formas de expressão artística, momento no qual passam a existir como um certo grau de Beleza.


Atualmente, os estudiosos redescobriram o viés subjetivo da teoria platônica, esquecido durante séculos. Trata-se de entender o objeto não como um fim em si próprio, mas enquanto instrumento capaz de despertar reações no sujeito. A Beleza do objeto existe na medida em que o sujeito que o contempla entende a obra como agradável, aprazível.


A Arte seria, para Aristóteles, uma maneira de arrebatar o indivíduo ao fazê-lo deparar-se com um objeto dotado de determinadas características capazes de levar quem o contempla a refletir, partindo da realidade recriada pelo artista.

quarta-feira, 30 de março de 2016

O PENSMAENTO ESTÉTICO EM PLATÃO

Por Sidnei Ferreira de Vares
Como afirma Jean Lacoste, se a filosofia da arte começa com Platão (e de fato isso é verdade se considerarmos seus escritos), ela principia com a condenação da arte. Embora Platão tenha nascido, crescido e vivido numa época em que Atenas respirava a reformulação processada por Péricles, inclusive do ponto de vista das belas artes, e tenha recebido, como grande parte dos jovens de sua época, uma educação que conferia um lugar proeminente aos poetas (principalmente Homero e Hesíodo), vai voltar-se contra a poesia, a pintura, o discurso escrito, a escultura e os cenários dos teatros.
A compreensão da beleza em Platão passa necessariamente por sua teoria das idéias, sem a qual fica difícil alocar e discorrer sobre o belo. Como afirma Ariano Suassuna, a teoria platônica da arte e da beleza está atrelada a sua visão de mundo. Como é sabido, Platão divide o universo em dois mundos: como diz Ortega y Gasset, o mundo em ruínas e o mundo em formas. Aquele é o que temos diante dos olhos, um mundo de transformações e mudanças intensas, onde nada permanece e tudo se esvai, no sentido mais típico do pantha-reiheraclitiano, o mundo da feiúra e da decadência. Este, por sua vez, é o mundo do autêntico, das idéias puras ou essências, do eterno e imutável que existe e sempre existirá, no sentido proposto por Parmênides e pela exatidão da matemática que Platão tanto admirava. O mundo das idéias no qual a verdade, a beleza e o bem são essências superiores, arquétipos imutáveis que servem de formas, modelos às coisas do mundo do sensível, este marcado pela mutabilidade, pela imperfeição. E tendo como pano de fundo esse sistema binário que Platão refletira a questão da beleza. Desde já cumpre lembrar que as alusões deste à arte não se aproximam das modernas concepções de belas-artes. Longe disso, Platão designa arte tudo aquilo que se refira a um saber-fazer, ou seja, a uma ação puramente técnica que se estende a muitas áreas como a política, a poesia, a marcenaria, a retórica, etc. Platão está longe de partilhar da mesma visão dos modernos no concernente à arte, sendo, portanto, porta-voz de uma cultura que relaciona arte e técnica, usando um conceito por outro.
Em sua obra A República, Platão, por meio de Sócrates, erige uma sociedade próxima da perfeição cujo fio condutor é a justiça. No livro X da referida obra, Platão alerta sobre o perigo que os poetas representam para seu intento, sendo a poesia definida como arte da imitação ou mimese.
A mimese ou imitação, nos diz Harold Osborne (1974: 52), se desenvolveu entre os séculos sexto e quinto a. C. na Grécia, e pode ser encontrada em manifestações artísticas distintas, como a escultura, a pintura, cenários, etc., tendo por escopo  reproduzir similares convincentes dos objetos que representavam. As pinturas e as esculturas eram admiradas pela aproximação com a realidade. O critério utilizado pelos artistas é o da verossimilhança ilusionística, ou seja, de produzir simulacros, sendo que essa técnica perdurou durante toda antiguidade clássica (OSBORNE, 1974: 54-57). Segundo Osborne, Platão utilizava o termo “mimese” para expressar a relação em que determinadas coisas empíricas se encontravam com o conceito geral que as abrange. Todavia, também aplica o termo para falar da poesia, escultura e pintura, e critica principalmente o poeta por iludir os ouvintes, já que se recusa a falar na primeira pessoa dando a entender de que são os personagens que estão a falar.
Como alerta Jean Lacoste, a arte mimética questionada por Platão, tem suas raízes mais profundas na sua concepção do ser e da verdade. Em outras palavras, o ser é aquilo que é justamente porque dispõe de uma identidade ou essência. O ser é então definido como idéia que se opõe ao devir. As essências, compreendidas como realidades perfeitas têm correlatos no mundo sensível. Se um artesão faz uma cadeira, esta só pôde ser feita a partir de uma idéia universal de cadeira. De certo modo, o artesão imita uma idéia que preexiste a cadeira feita por ele. Não foi ele que produziu a idéia de cadeira, mas apenas tentou aproximar-se dessa idéia. Todavia, uma vez concluída a sua obra, esta não é perfeita tal como a idéia que lhe serviu de modelo. Mas embora sua cadeira não seja perfeita como a idéia que a gerou, ela “participa” em algum grau da perfeição da cadeira real (ideal), tendo em vista que a teve como modelo. Ora, o escultor, o pintor, o poeta, são como artífices, pois também produzem objetos, mas, diferentemente daqueles, o fazem por um processo de imitação da imitação, pois têm como modelos não as essências, mas coisas produzidas pelos homens. Um pintor ao pintar um sapato, apreende uma parte da realidade, embora sua pintura nos dê a impressão de totalidade. Ao pintar um sapato, o pintor não sabe fazer um sapato, pois não é sapateiro, mas tem como modelo um sapato produzido pelo sapateiro e não o conceito de sapato.
Para Platão, as essências correspondem à realidade, o trabalho de um artesão corresponde a uma imitação da realidade, enquanto a produção de um escultor, poeta ou pintor uma imitação da imitação da realidade, estando, portanto, mais afastada da realidade, distanciada em relação ao ser. As belas-artes, termo que Platão desconhecia, são simulacros, sendo os poetas simuladores de virtude, e é por isso que o autor faz pesadas críticas a eles.
Na obra O Sofista, Platão divide as artes em duas, a saber: a arte de aquisição(pesca, caça, guerra, etc.) e a arte de produção. Esta última de dividem em duas partes: a arte de produção de coisas reais e a arte de produção de simulacros, no qual se enquadram as belas-artes. Mas a arte de produção de simulacros (mimese), ainda pode ser dividida entre aquelas que procuram produzir o modelo real em sua inteireza e simetria (tamanho, forma) e aquelas que se deviam para a criação da ilusão. A época em que Platão viveu já contava com algumas inovações no que se refere à pintura. Técnicas de perspectiva (profundidade e volume) revolucionam os cenários teatrais e criam falsas impressões sobre a realidade. Platão questiona essas técnicas, pois essas iludem o expectador, que se compara a uma feitiçaria.  Platão, portanto, compara essas técnicas (trompe d´oiel) à arte dos sofistas, cujo objetivo também era ludibriar, gerando falsos prazeres, principalmente quando são avistas a distância, pois de perto podem ser facilmente identificadas. Pintores, poetas, escultores e sofistas são alocados dentro de um mesmo rol: o dos enganadores e, portanto, a arte mimética é vista como uma ilusão que faz esquecer as coisas verdadeiras.
Numa outra obra As Leis, Platão reconhece a importância da música (canto e dança) para a educação dos jovens, mas esse reconhecimento é seguido de sérias ponderações sobre sua utilização, tendo em vista que a música trata das paixões humanas devem ser regulamentadas. A mimese para Platão constitui uma arte de inferioridade ontológica por se afastar das realidades verdadeiras. Mas Platão também institui uma teoria do belo. Ao analisar a questão do belo em Platão, Suassuna afirma que a alma é sempre atraída para a beleza, haja vista ter contemplado no mundo das essências a Beleza Absoluta e dela sentir imensuráveis saudades. A decadência da alma para o mundo sensível, mas precisamente no cárcere que é o corpo, afastou-a de beleza absoluta do mundo das idéias. Algumas almas recordam com maior facilidade do que outras presas à parte material e grosseira da vida. Essa teoria fica mais explicita em duas obras O Banquete e Fedro. Na primeira delas, Platão demonstra que o único caminho capaz de elevar a alma ao mundo das idéias é o amor. Os seres humanos seriam, a princípio, andrógenos e uma vez tendo sido separados, vivem a procurar sua parelha. Essa busca da alma, comentada no diálogo n´O Banquete, é muitas vezes marcada por erros. Platão afirma que os indivíduos inferiores se satisfazem com a forma mais grosseira de amor: o amor físico. Jaeger em sua Paidéia faz um imenso comentário sobre a questão dos corpos belos, que geralmente atraem os homens, mas que não são mais do que a manifestação de um belo absoluto. Ao perceber, por comparação, que a beleza dos corpos participa de uma beleza absoluta, o homem superior libertasse do amor inferior, pois descobre que a beleza dos corpos é passageira e passa a contemplar a beleza em sim mesma desinteressadamente.
Existe, portanto, uma identificação entre Beleza, Verdade e o Bem, pois o belo é uma característica da verdade, sendo por isso boa moralmente. É por esse motivo que a fruição da beleza gera prazer e deleite. A própria sabedoria é amada por sua beleza. Mas a passagem que conduz o ser humano a fruição da beleza absoluta é entendida dentro dos limites da reminiscência, já que essa contemplação é ainda uma recordação do que a alma já contemplou. Na obraFedro, Platão, pela boca de Sócrates, explora a questão do amor. Mas, embora o amor seja o tema principal do diálogo, nele o Platão explora a questão da beleza. Procurando provar que o discurso de Lísias, segundo o qual é preferível que um jovem belo e amado deve conceder seu amor àquele que não o ama, do que àquele que o ama de fato, declamado no início do diálogo por Fedro, Platão desenvolve a tese de que o amor é a visão do belo excitada pela paixão por meio da reminiscência das visões eternas. A alma, que já teria habitado o mundo das idéias e contemplado a beleza em essência, se compara a uma carruagem, dirigida pro um cocheiro (intelecto) e puxada por dois corcéis alados, um dócil (a coragem), outro rebelde (concupiscência). Quando descontrolada pela concupiscência, a alma pode cair para o mundo sensível e ser aprisionada num corpo. Algumas se lembram das belezas contempladas no mundo ideal, outras têm mais dificuldade. Platão defende que a alma é apaixonada pelo belo e deseja retornar a seu mundo. Segundo Platão (2007: 83) [246 e 247], “O que é divino é belo, sábio e bom. Dessas qualidades as asas se alimentam e se desenvolvem, enquanto todas as qualidades contrárias como o que é feio e o que é mau, fazem-na diminuir e fenecer”. Mais a frente afirma (2007: 91) [254]: “Quando o cocheiro vê o ser amado, a lembrança o reconduz para essência da beleza. Este a revê no santo pedestal, ao lado da sabedoria, e ele se assusta, teme, e necessariamente puxa o freio.E com tal violência o retrai que ambos os cavalos recuam; o bom voluntariamente e sem resistência; o ruim, entretanto, a contragosto”.  Sobre os discursos escritos, tão utilizados pelos sofistas, Platão faz sérias críticas e compara a pintura a sofistica, quando afirma que (2007: 120) [275], “o uso da escrita, Fedr, tem um inconveniente que se assemelha à pintura. Também as figuras pintadas têm a atitude de pessoas vivas, mas se alguém as interrogar conservar-se-ão gravemente caladas. O mesmo sucede com os discursos. Falam das coisas como se as conhecessem, mas quando alguém quer informar-se sobre qualquer assunto exposto, eles se limitam a repetir sempre a mesma coisa”. Como se pode notar, Platão procura aproximar aqueles que enganam, por meio de ilusões discursivas àqueles que ludibriam através da pintura e da poesia, pois tanto num caso como no outro, essas artes não têm como objetivo elevar a alma, mas iludi-la. Isso fica claro quando Platão opõe o discurso sofístico ao filosófico, ao afirmar que “…Os melhores discursos escritos são os que servem para reavivar as lembranças dos conhecedores; só as palavras pronunciadas com o fim de instruir, e que de fato se gravam na alma, sobre o que é justo, belo e bom, apenas nelas se encontra uma força eficaz, perfeita e divina a ponto de nelas empregarmos os nossos esforços; somente tais discursos merecem ser chamados filhos legítimos do orador, gerados por ele próprio, quando esse orador possui um gênio inventivo, e quando nas almas de outras pessoas eles engendram descendentes e irmãos que sejam dignos da família. Quanto aos demais discursos, podemos desprezá-los” (PLATÃO, 2007:123) [277].

Referências bibliográficas
BASTIDE, Roger. Arte e Sociedade. Traduzido por Gilda de Mello e Souza. 3. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1979.
BASTOS, Fernando. Panorama das idéias estéticas no ocidente: de Platão a Kant. Brasília: EUB, 1987.
BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 1985.
CAUQUELIN, Anne. Teorias da Arte. Traduzido por Rejane Janowitzer. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
LACOSTE, Jean. Filosofia da Arte. Traduzido por Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.
NUNES, Benedito. Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo: Ática, 2006.
OSBORNE, Harold. Estética e Teoria da Arte. Traduzido por Octávio Mendes Cajado. 2. ed. São Paulo: Cutrix, 1974.
PLATÃO. Fedro. Traduzido por Alex Marins. São Paulo: Martin Claret, 2007.
_________. A República. Traduzido por Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
_________. Diálogos. Traduzido por Jorge Paleikat. Porto Alegre: Globo, 1964.
_________. Diálogos: Critão, Menão, Hípias Maior e outros. Organizado por Benedito Nunes. Traduzido por Carlos Alberto Nunes. 2 ed. Paraíba: EDUFPA, 2007.
SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. 9. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Convite à Estética. Rio de Janeiro: Civilização  Brasileira, 1999.


segunda-feira, 21 de março de 2016

PENSAMENTO ESTÉTICO: HOMERO E AS ESTRATÉGIAS GREGAS

BELEZA
Havia contudo uma clara concepção de beleza e de arte que orientava a sua prática artística.
O conceito de BELEZA – KALOS tinha um significado vasto: significava tudo o que agrada, atraí e provoca admiração
A palavra belo era aplicada a uma multiplicidade de possibilidades variada: Instrumentos humanos, obras de arte, natureza, valores morais, etc…
“O mais justo é o mais belo” Oráculo de Delfos

ARTE - TECHNE

Os Gregos tinham também um significado muito lato para a palavras Arte (Techne)
Aqui estavam incluídas todas as produções humanas, da carpintaria à arquitectura.
O significado de Techne é o de produção humana por oposição à natureza
Tecne era considerada uma actividade mental e por isso um produto do conhecimento
No início não se fazia a distinção entre Artesanato e Belas Artes

Arte e Poesia

Para os gregos antigos, música e poesia eram classificados noutra categoria de actividades, com uma definição mais próxima do que consideramos hoje em dia arte.
Tratava-se de actividades que não resultavam apenas de uma habilidade aprendida, mas de talento pessoal e da inspiração. Além disso, muitas esculturas tinham uma finalidade meramente religiosas. Não eram vistas como obras de arte.

A Poesia era para os gregos uma manifestação artística que não cabia na categoria da Techné, isto é, não depende de canons nem de leis universais, mas sim da Inspiração.
Tecné era uma espécie de produtividade associada a tipos de destreza.
Poesia era uma criação interna que depende da inspiração dada por poderes divinos.

Para os Gregos a Poesia estava acima de todas as artes. Havia Musas para todas os tipos de poesia: lírica, elegíaca, erótica, tragédia, comédia, relacionadas com estas surgiram também musas associadas à música e à dança, artes que sempre estiveram associadas à poesia, mas nunca houve Musas de Artes Visuais.


AS 9 MUSAS

Calíope- Bela voz- Eloqüência-Tabuleta e buril
Kleio- A Proclamadora- História- Pergaminho parcialmente aberto
Erato- Amável- Poesia Lírica- Pequena Lira
Euterpe- A doadora de prazeres- MúsicaFlauta-
Melpômene, A poetisa- TragédiaUma máscara trágica, uma grinalda e uma clava
Polímnia- Polyhymnia- A de muitos hinos- Música Cerimonial (sacra)- Figura velada
Tália,Thaleia- A que faz brotar flores- Comédia- Máscara cómica e coroa de hera ou um bastão
Terpsícore, A rodopiante- DançaLira e plectro
Urânia, A celestial- Astronomia, Globo celestial e compasso 

POESIA

Os primeiros prenúncios da Estética fizeram-se sentir na Poesia, antes de qualquer texto teórico ou filosófico
Os primeiros poetas gregos colocaram questões, que no fundo foram mais tarde as grandes questões da Estética.
Ex. Qual a origem da Poesia?; Qual o valor da Poesia?; O discurso poético expressa a Verdade? etc…

PERÍODO MITOLÓGICO- POÉTICO

Período Mitológico- Poético
Período Pré-Socrático, representado culturalmente sobretudo por poetas
Na poesia o adjectivo kalos, surge com frequência. Por ex.:
Hésiodo: “Quem é belo é querido, quem não é belo não é querido”
A “Beleza” inicialmente não tem um estatuto autónomo, surge associada a qualidades morais, como a justiça, ou a bondade


HOMERO

Foi o primeiro grande poeta grego do género épico cuja obra chegou até nós. Teria vivido e morrido no século VIII a.C.
Pelo século VIII a. C. aparecem as epopeias inspiradas na lenda da Guerra de Tróia: a Ilíada e a Odisseia. Segunda o tradição, o seu autor é Homero, poeta cego e nómada cuja actividade literária se baseia nas tradições orais, transmitidas de geração em geração, sobre as expedições gregas a Tróia (no Noroeste da Ásia Menor).

Já antes do início do pensamento filosófico, as riquíssimas obras de Homero (Ilíada e Odisseia) tendem a aproximar os deuses dos homens, num movimento de racionalização do divino. Os deuses homéricos, que viviam no Monte Olimpo, possuíam uma série de características antropomórficas.
A Poesia precede o pensamento racional e estruturado que caracteriza a Filosofia ou a Estética.
Neste período o pensamento dominante é o mitológico e a Poesia é a sua mais elevada expressão
A poesia expõe pela primeira vez na Grécia Antiga o pensamento estético


Em Homero a fonte da Beleza é a natureza (Belo Natural)
Depois da Natureza, refere-se a mulheres e também aos homens
Em Homero há uma ligação entre o Belo e o Útil: Talvez tudo o seja belo seja útil, mas nem tudo o que é útil é belo
ex.: As terras belas não são belas por causa das sementeiras mas por causa da cor das searas

Ex.: “O adolescente é sempre Belo, tudo lhe fica bem, mesmo na morte, tudo nele é belo”
Em Homero o belo aparece associado ao Bem, à Conveniência e ao decoro.
Conveniência: É uma harmonia entre o humano, o meio e os seres

Temas estéticos em Homero

De onde vem a poesia?
Vem das musas, dos Deuses
- Qual é o objectivo da Poesia?
É espalhar a alegria, a fruição e o encanto entre os humanos
-Qual o efeito da poesia nos seres humanos?
A poesia é como um feitiço, um encantamento
-Para Homero a poesia não é vista como uma arte autónoma, mas como um privilégio que vem dos deuses.

Porque é que Homero faz questão de atribuir às Musas e não a si próprio a capacidade de produzir o memorável?
Homero relata-o a lenda, do poeta Támiris, o Trácio. Atribuindo a si próprio a genialidade dos seus poemas, Támiris desafiou as Musas para um duelo. Tendo sido derrotado, as Musas lhe tomaram o talento e a visão.
O poeta faz questão de depender das Musas porque tal associação o enobrece.
Ele considera-se o discípulo e o favorito dos deuses. Assim, de certo modo, é como se deles descendesse.
Homero faz Ulisses declarar que "entre todos os homens da terra, os poetas merecem honra e respeito, pois a eles a Musa, que ama a raça dos poetas, ensinou".


•Com isso, o poeta conquista a liberdade de cantar, nas palavras de Telémaco, na "Odisseia", "por onde quer que a mente o conduza".
•Se não tivesse sido atribuída origem divina às palavras do poeta, elas jamais teriam conquistado semelhante liberdade.
Quem legitima a liberdade do poeta são as Musas, mas quem garante a existência das Musas é o poeta.
A evidência de que as Musas possuem o poeta é sugerida pelos versos nos quais o poeta Teógnis afirma que as Musas cantavam "um belo poema: o belo é nosso, o não belo não é nosso".


A beleza dos poemas é prova de sua origem divina, e sua origem divina legitima a liberdade do poeta.
Por direito, seus poemas são belos por serem divinos; de facto, porém, são divinos por serem belos.
O objectivo do poeta não é fazer o poema "verdadeiro", mas fazer, por onde quer que – sua Musa – o leve, o poema inesquecivelmente belo, o poema memorável pela sua beleza; e a primeira exigência do seu público não é escutar um poema "verdadeiro", mas um poema cuja origem se encontre na dimensão da divindade ou seja, um poema que lhe dê prazer estético, pois o "cantor divino" é, como se lê na "Odisseia", aquele que "delicia ao cantar".
Uma vez que o puro esplendor e beleza do poema constitui a prova da sua autoria divina, nele as considerações morais ou religiosas estão subordinadas a considerações estéticas.

Para Homero os poetas tinham uma tarefa divina:
“A sabedoria dos poetas vem das Musas” Íliada, II, 484
“A poesia é mais durável que a vida” Odisseia, VIII, 578

Poesia Lírica

A Poesia lírica nasceu na Grécia antiga acompanhada de instrumentos musicais como a Lira e a Flauta, nos versos de Safo e Alceu
Há poetas líricos Eróticos, Heróicos e Elegíacos

Com os poetas líricos a beleza vai-se tornando individual e humana
Ex. A Beleza é a juventude” Safo
A beleza aplica-se também ao som da harpa, da lira e à arte no geral enquanto produto humano.
Para os poetas líricos há uma antropomorfização da Beleza. Por ex. As paisagens tornam-se estados de alma




SAFO

A Poesia lírica nasceu na Grécia antiga acompanhada de instrumentos musicais como a Lira e a Flauta.
Safo foi uma poetiza grega que viveu no ano 600 a. C..viveu na cidade Lesbos de Mitilene, acivo centro cultural no século VII a.C.. Nascida algures entre 630 e 612 a.C., foi muito respeitada e apreciada durante a Antiguidade, sendo considerada "a décima musa“ por Platão.
Safo era comparada a Homero em plena Antiguidade


Still holding in that fearful leap
(By her loved lyre) into the deep
And dying, quenched the fatal fire
At once, of both her heart and lyre”
Thomas Moore, Evenings in Greece,1826

Ainda em queda nesse salto temeroso
(Pela sua amada lira) dentro das profundezas
E ao morrer, apagou o fogo fatal
do seu coração e da sua lira, por um único golpe.


A sua poesia, devido ao conteúdo erótico, sofreu censura na Idade Média por parte dos monges copistas,que mandaram queimar a sua obra e o que restou foram escassos fragmentos.
Contavam que se tinha suicidado saltando de um precipício na ilha de Leucas, apaixonada pelo marinheiro Faonte - facto que é descrito também em Menandro, Estrabão e Ovídio.
Não há consenso de que isto seja verdade. Escritos sobreviventes atestam que Safo teria atingindo a velhice, e o certo é que não se sabe como nem quando ela morreu, sendo considerada por alguns a maior de todas as poetisas.


“Um homem belo, só o é na aparência. O homem bom será igualmente belo.”
“A morte é um mal. Foi assim que os deuses o entenderam; de contrário, seriam mortais”.
"Safo era maravilhosa pois em todos os tempos que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que de leve, em matéria de talento poético." Estrebão

SAFO - Citações
Para Anactória
A mais bela coisa deste mundo para alguns são soldados a marchar, para outros uma frota; para mim é a minha bem-querida.
Fácil é dá-lo a compreender a todos: Helena, a sem igual em formosura, achou que o destruidor da honra de Tróia era o melhor dos homens,
e assim não se deteve a cogitarem sua filha nem nos pais queridos: o Amor a seduziu e longe a fez ceder o coração.
Dobrar mulher não custa, se ela pensa por alto no que é próximo e querido. Oh não me esqueças, Anactória, nem aquela que partiu:
prefiro o doce ruído de seus passos e o brilho de seu rosto a ver os carrose os soldados da Lídia combatendo cobertos de armadura.

“Um homem belo, só o é na aparência. O homem bom será igualmente belo.”
“A morte é um mal. Foi assim que os deuses o entenderam; de contrário, seriam mortais”.
"Safo era maravilhosa pois em todos os tempos que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que de leve, em matéria de talento poético." Estrebão



A Beleza na Tragédia

A Tragédia é o apogeu do pensamento pessimista.
Representação da angústia e do desvario humano bem como do espírito da justiça e vitória da Razão.
Apolo / Diónisos
Racional e Irracional
A literatura grega reúne três grandes tragediografos, cujos trabalhos ainda existem: Ésquilo, Sófocles, Eurípedes
Ésquilo: vulnerabilidade do humano: o Prometeu Agrilhoado
Sófocles: O homem é fraco e submetido à necessidade. Ex. O Rei Édipo
Sófocles: Celebra a grandeza moral do ser humano.
Ex. “Nada é mais belo do que morrer pelo nosso dever” Antígona

A Tragédia desvela o drama da humanidade: o ser humano face às forças do universo que ele não domina
O sofrimento humano vivido com dignidade
Aristóteles define a Tragédia como uma representação de uma Acção grave com uma certa extensão e completa, com actores a agir e não a narrar, a qual inspira pena e terror, operando a catarse dessas emoções.